segunda-feira, 23 de setembro de 2013

CORREIO MFC BRASIL Nº 337


Há alguns anos em Caracas uma editora lançou um jornal de boas notícias. Não seriam omitidas as más notícias naturalmente, mas estas sem muita extensão e alarde, apenas registros sucintos sem exploração da maldade humana ou demasiado derramamento de sangue. As manchetes e os espaços mais generosos seriam reservados a noticiar acontecimentos construtivos e ações de promoção humana, incentivando seus leitores a sempre maior envolvimento em organizações e atividades humanizadoras. O jornal não durou muito a jogar a toalha e sair de circulação. Faltaram leitores interessados em boas notícias...

A mídia “faz a verdade”...
Helio Amorim

Para vender jornalismo é preciso uma alta dose de tragédia, degradação humana e social, guerras e atentados sádicos, crimes e desastres pictóricos da natureza ou de trânsito com muitos mortos e feridos. Especial destaque se envolvidas pessoas famosas ou muito ricas em bairros charmosos. Se além da importância social os atores forem políticos, a imprensa dos partidos adversários vão gastar mais tinta e papel para repercutir e faturar os efeitos dos acontecimentos.

Essa infeliz orientação editorial aumenta as vendas mas passa aos leitores uma visão destorcida da realidade. Mundo afora, em nosso país ou cidade predominam, acreditem, boas ações, bom comportamento, generosidade de amplo espectro, solidariedade, trabalhos múltiplos de promoção humana, de educação, de apoio nas situações de sofrimento e perigo.
São incontáveis as pessoas, os movimentos e organizações dedicados a essas atividades assistenciais e promocionais, diversificadas e de proporções pouco conhecidas.
Ou conhecidas demais se alguma pessoa ou grupo promoveu na sua entidade atividades menos nobres como desvios de dinheiro ou práticas ilícitas finalmente denunciadas nestes dias com destaque nas colunas policiais da mídia.
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Voluntários levam alegria aos internos do INCAHospital do Câncer, principalmente às crianças
Mirando o vasto mundo, o noticiário é especialmente sangrento e localizado na geografia de cada momento de estresse, logo esquecido, como se perfeitamente superada aquela situação política ou social extrema.
Recordamos algumas tragédias mais recentes que marcaram em vermelho as páginas de nossas leituras. O que estará acontecendo no Congo, em Ruanda, depois das guerras que ocuparam nossa atenção? Acampamentos de refugiados assistidos pela Cruz Vermelha no centro da África: estão todos bem? Voltaram para casa depois de contar seus mortos? Não nos mandam notícias há dois anos. Na Líbia, depois dos lances emocionantes da derrubada de Kaddafi por exércitos estranhos, está tudo bem, todos felizes? Há mais de um ano não temos notícias.
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O Afeganistão e o Iraque seguem vivos no noticiário porque o morticínio continua violento, mas a realidade é nublada pelos interesses em jogo, pintado de negro pelo petróleo e pela brutalidade das intervenções externas de potências equivocadamente “ameaçadas” por mísseis fantasmas, “fotografados” e transmitidos urbi et orbi. Nunca se saberá o número de mortos desarmados dessa guerra insana com cheiro de óleo.
Tampouco no Egito: um ditador sanguinário foi derrubado depois de décadas de maldades. Governo livre assume com respaldo de potências ocidentais mas logo também é derrubado por militares. Mais mortes. Agora na Síria e no Líbano, cem mil mortos, destruição ciclópica de cidades inteiras reduzidas a escombros, uso criminoso de gases mortíferos matando mais de mil e trezentas pessoas, crianças e bebês, um milhão de refugiados na Jordânia, em disputa sangrenta entre duas facções, ambas sedentas de sangue e nada confiáveis, mas já se esboçando intromissão ocidental tomando partido de um dos lados como o menos pior, dúvidas à parte, também cheirando a petróleo.
Chegamos então ao tema do intróito: por distração da mídia, especialmente da televisiva, surgem flashes de espaços pacíficos nesses países, muita gente trabalhando, curtindo praias, fazendo compras, indo ao teatro, passeando no parque, como se pouco perigo existisse e a vida seguisse quase normal. Passam a ideia de um status relativamente administrável nas porções geográficas maiores de seus países. Mas esses flashes de certa normalidade não são captados e difundidos pela imprensa ávida de sangue, o que abrandaria o ímpeto salvacionista das potências externas.
O que desejamos, portanto, é conhecer melhor a realidade desses países de população sofrida que a mídia apresenta como em estado terminal, na esperança de que este seja o de conflitos políticos localizados que não devem mobilizar intervenções externas, sempre desastradas.
Em nosso país, o cenário é pacífico mas foi criado um falso teatro midiático de guerra entre passeatas construtivas de pura cidadania e vandalismo gratuito, ainda que sem mortos e feridos. Já produziram efeitos políticos importantes. Sigam, mas dominem os impulsos destruidores infiltrados que os enfraquecem.

Pietro Parolin, recém nomeado Secretário de Estado do Vaticano, fala sobre o celibato e reclama que a Igreja mostre um "espírito democrático”, no sentido de "escutar atentamente” os fiéis e o mundo

O celibato obrigatório "não é um dogma de fé e pode ser discutido, porque é uma tradição eclesiástica”. Assegura o recém nomeado Secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, atual Núncio Apostólico na Venezuela. Ele, a segunda autoridade do Vaticano depois do papa Francisco, em uma entrevista ao Universal, da Venezuela, revelou qual será o talante do novo governo da Igreja nesse pontificado recém estreado.
“O celibato não é um dogma”
Porém, além de recordar uma verdade da doutrina da Igreja, que muitos teólogos conservadores têm dificuldade em admitir, como o celibato obrigatório não faz parte de um dogma, que não possa ser mudado, Parolin adentrou-se em outro tema delicado e polêmico: o da "democracia” na Igreja.

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Pietro Parolin.
Jorge Silva (Reuters)
Segundo o próximo Secretário de Estado, mesmo que "sempre se disse que a Igreja não é uma democracia”, é necessário que, hoje, como "abertura aos sinais dos tempos”, mostre um "espírito democrático”, no sentido de "escutar atentamente” aos fiéis e ao mundo. E mais: antecipou que esse é um dos "objetivos do pontificado” do papa Francisco.
As novas reformas que a Igreja empreenderá e das quais, devido à importância de seu cargo, Parolin
participará ativamente, deverão levar, segundo ele, o selo desse "espírito democrático”, em vez de ser tomadas, como no passado, no silêncio dos palácios apostólicos, sem escutar a voz da Igreja universal. Seriam decisões colegiadas, confirmadas depois pelo papa.
Comentando o tema do celibato, afirmou que a possível mudança em um tema tão delicado supõe um "desafio” para o papa e que, ao tomar uma decisão, Francisco o fará colegialmente, escutando a todos os pastores e que deverá servir "para unir a Igreja e não para dividi-la”. É evidente que Parolin não teria abordado um tema tão candente antes de tomar posse de seu cargo se não tivesse uma segurança de que seu pensamento não diverge do pensamento do papa, que já havia recordado o rabino argentino Abraham Skorka, que a Igreja Ortodoxa, que não se separou de Roma, "admite sacerdotes casados”.
Apesar da afirmação do próximo Secretário de Estado de que o celibato não é um dogma, mas uma normativa da Igreja e, portanto, pode ser abolido, poderia parecer óbvia: somente o fato de tê-lo recordado e de colocar esse possível desafio nas mãos do papa Francisco, como algo que será estudado, supõe uma revolução. A Igreja primitiva não conhecia o celibato. A maioria dos apóstolos eram casados. Jesus, dizem os evangelhos "curou a sogra de Pedro”, que seria o primeiro papa da Igreja.
Ao explicar São Paulo, na Primeira Epístola a Timóteo, como deveria ser a conduta de quem aspirasse a ser bispo, escreve: "Convém que seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honrado, acolhedor (...) não baderneiro, nem avaro” (Tim 3,1). E agrega: "Que governe bem sua própria casa, tenha seus filhos sob obediência, com toda modéstia. Porque se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da Igreja?” (Tim 3, 4-5).
São Paulo não fala sobre os sacerdotes; para ele, até os bispos deveriam estar casados e ter filhos. A única restrição é que sejam marido "de uma mulher”; ou seja, que não caiam na tentação do adultério. A imposição do celibato sacerdotal obrigatório foi instituído em 390 depois de Cristo, pelo que tem razão Parolin, em que não se pode tampouco menosprezar o fato de que se trata de 
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uma longa tradição da Igreja. No entanto, segundo ele, hoje a Igreja vive em um mundo muito distinto e tem que estar atenta aos "novos sinais dos tempos”.
A cada dia, parece mais claro que Francisco está determinado a fazer mudanças mais do que cosméticas na Igreja, como acaba de demonstrar, com suas afirmações, o nomeado novo Secretário de Estado, uma figura na hierarquia da Igreja que sempre foi determinante para os rumos de um pontificado.

Tradução: ADITAL.
12 setembro 2013

 O que pensa e ensina Francisco
Este espaço nos próximos Correios estará reservado para difundir o pensamento do papa, revelado em longa entrevista concedida ao Padre Antonio Spadaro, SJ, para o jornal “Civittà Cattolica” (Itália) neste mês de setembro. Para refletir e aprender.

“Como estamos tratando o povo de Deus?”

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“Sonho com uma Igreja Mãe e Pastora. Os ministros da Igreja devem ser misericordiosos, tomar a seu cargo as pessoas, acompanhando-as como o bom samaritano que lava, limpa, levanta o seu próximo. Isto é Evangelho puro.
Deus é maior que o pecado. As reformas organizativas e estruturais são secundárias, isto é, vêm depois. A primeira reforma deve ser a da atitude.

Os ministros do Evangelho devem ser capazes de aquecer o coração das pessoas, de caminhar na noite com elas, de saber dialogar e mesmo de descer às suas noites, na sua escuridão, sem perder-se.

O povo de Deus quer pastores e não funcionários ou clérigos de Estado. Os bispos, em particular, devem ser capazes de suportar com paciência os passos de Deus no seu povo, de tal modo que ninguém fique para trás, mas também para acompanhar o rebanho que tem o faro para encontrar novos caminhos.”


PENSAMENTOS
A verdade

Ana Carolina

Clarice Lispector
Charles Chaplin


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